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Quão lenta, ao certo, é a vacinação no Brasil?

Foto: Cassidy Brandt for The Daily Illini
Foto: Cassidy Brandt for The Daily Illini
Estudo mostra quanto é preciso imunizar em cada Estado para ver melhoras na pandemia

É consenso que a vacinação no Brasil precisaria ocorrer em um ritmo bem mais rápido para controlar o aumento no número de casos. Porém, a velocidade necessária varia de Estado para Estado, em função de fatores como a eficácia da vacina utilizada e os números de casos, óbitos e recuperados. É o que mostra o estudo “Sob que condições a vacinação pode controlar a pandemia no Brasil?”, realizado pelo Grupo Interdisciplinar Ação Covid-19.

O grupo desenvolveu um método para calcular a cobertura vacinal mínima para atingir um cenário em que cada pessoa infectada transmite o vírus, em média, para menos de uma pessoa – ou seja, em que R0 é menor que 1. Dessa forma, é possível estimar a proporção de população imunizada, para cada Estado, a partir da qual começa a se apresentar uma inflexão da curva de novos casos, indicando a tendência de refreamento da pandemia.

O método foi aplicado a todos os Estados do Brasil, em dois exercícios. No primeiro, a pergunta era: quanto teria sido preciso vacinar para conter a pandemia em dezembro, janeiro ou fevereiro? Em dezembro, com menos de 50% de cobertura vacinal, teria sido possível a todos os Estados controlar a pandemia. O Maranhão, em particular, poderia começar a obter resultados a partir do momento em que vacinasse 13% da população.

Já no mês seguinte, o cenário de descontrole do vírus, particularmente com a maior transmissão de novas variantes, gerou resultados muito piores. "A partir desse momento, vemos um cenário que exigiria um esforço inatingível, dada a disponibilidade atual de vacinas", alerta a pesquisadora Pamela Chiroque, doutora em Estatística e membro do Ação Covid-19. Estados como Amazonas e Rondônia deveriam imunizar 75% e 62,5% da população, respectivamente. Em fevereiro, destacou-se a piora da situação do Rio Grande do Sul, que passou a precisar de 62,5% de cobertura vacinal para chegar à disseminação abaixo de 1.

O segundo exercício parte dos dados de março para comparar quanto os Estados já realizaram de vacinação com o que seria necessário. Nesse período, o Estado mais afetado foi o Tocantins, que deveria vacinar 83,23% da população para reduzir as transmissões. No entanto, com 1,8% da população vacinada (22/3), só 2,16% do necessário foi alcançado. O Amapá ocupa a segunda posição, devendo atingir 73,72% da população. Mas realizou apenas 1,67%, ou 2,27% do necessário. Já o estado mais populoso, São Paulo, precisaria de 46,98% de vacinação e já realizou 2,64%, correspondendo a 5,62% do necessário.

"O que transparece nesse estudo é a necessidade de uma distribuição diferenciada das vacinas, de Estado para Estado, a cada momento da pandemia", explica a pesquisadora Beatriz Carniel, doutora em Medicina Tropical e membro do Ação Covid-19. "Considerando a escassez de vacinas, seria preciso priorizar os Estados com maior necessidade de controle da transmissão do vírus e focar os esforços de distribuição de imunizantes", acrescenta. "Nossa metodologia mostra um retrato simples, didático e realista da situação atual, que pode motivar e orientar tomadas de decisão", completa Chiroque.