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Curitiba: Flexibilização e Calamidade durante a Pandemia

Foto: Gerson Klaina para Gazeta do Povo
Foto: Gerson Klaina para Gazeta do Povo
Centro de Curitiba com ruas vazias durante a Pandemia

Introdução

Assim como aconteceu em São Paulo e nas demais capitais do país, o coronavírus chegou a Curitiba através dos estratos sociais mais altos, para posteriormente se disseminar entre as camadas mais pobres da população. O primeiro caso foi confirmado em 11 de março de 2020 em um homem de 54 anos que havia viajado por Espanha, Portugal e Holanda. O segundo infectado foi confirmado logo em seguida; tratava-se da filha do primeiro infectado, uma jovem de 25 anos, que também havia realizado viagens internacionais.

No dia seguinte, confirmaram-se mais três casos, todos de pessoas que haviam viajado para a Europa 2. Seis dias após o primeiro diagnóstico positivo para Covid-19 e com apenas sete casos confirmados, o prefeito da cidade, Rafael Greca (DEM), expediu o Decreto nº 421, o qual declarava situação de emergência em Saúde Pública em todo o município, limitando a realização de eventos e suspendendo as aulas da rede de ensino municipal. Mesmo com o decreto prevendo a possibilidade de implantação de medidas de quarentena (lockdown), não foi a estratégia escolhida naquele momento.

Em 21 de março, o governador do estado do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), por meio do Decreto nº 4.942, restringiu ainda mais as atividades, suspendendo o funcionamento de shoppings, feiras, barbearias e academias de ginástica, entre outros serviços. Dois dias depois (23/03), o avanço de casos confirmados no Paraná foi de 900% em relação à semana anterior: de 6 para 60 no estado e de 29 para 33 em Curitiba - com 233 suspeitos ainda sob análise.

A primeira morte por Covid-19 na capital paranaense se deu em 6 de abril, vitimando uma mulher de 56 anos. Seu quadro de comorbidades – diabetes, dislipidemia, anemia e hipotireoidismo - foi crucial para a letalidade da doença. Nove dias após o primeiro óbito, mesmo com o surto epidêmico em crescimento, o prefeito de Curitiba decidiu pela reabertura do comércio e por relaxar o isolamento, preconizando que idosos, pessoas com baixa imunidade e doenças pré-existentes deveriam ficar em casa, em um argumento próximo ao do isolamento vertical.

A consequência de tal flexibilização foi um maior número de pessoas nas ruas e a abertura de estabelecimentos e atividades nem um pouco essenciais. Isso, claro, contribuiu para a internalização da doença na direção de territórios mais pobres, ao deslocar-se do centro. Mais tarde, no dia 22 de maio, até mesmo as igrejas foram liberadas a voltar com suas atividades, desde que, entre outras precauções, mantivessem seus templos com no máximo 30% de ocupação.