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Teremos que tomar vacina contra Covid todo ano?

Para responder essa pergunta, temos que entender as diferentes relações entre os vírus e as vacinas

Para responder essa pergunta, temos que entender as diferentes relações entre os vírus e as vacinas,

Para responder essa pergunta, temos que entender as diferentes relações entre os vírus e as vacinas. Essas relações normalmente dependem da estrutura de cada vírus e de como ele se liga nas células humanas.

Existe um tipo de vírus, como o da febre amarela, que pode ser prevenido com uma só dose de vacina e que gera proteção vitalícia. Outro tipo de vírus é “esquecido” pelo sistema imune depois de um período pós-vacinação. Assim, usa-se uma nova dose de reforço da vacina para relembrar o corpo de que aquele vírus é perigoso. Esse é o caso da vacina de tétano, que tomamos um reforço depois de 10 anos da primeira dose.

O último tipo de vírus tem alta capacidade de se mutar. Eles podem apresentar essa característica naturalmente ou porque tem muitos vírus circulando na população, aumentando, assim, o número total de mutações. Nesses casos, pode ser que a vacina usada anteriormente não seja mais tão eficaz contra um novo vírus mutado. Dessa forma, é necessária a reformulação da vacina de acordo com o tipo de vírus mutado que está circulando na região. Isso é o que se faz com a vacina de gripe no Brasil: todo ano um comitê se reúne e analisa as variantes circulantes para formular uma vacina de gripe relativa àquele ano específico.

No caso do coronavírus, a comunidade científica ainda não sabe exatamente qual é a relação do vírus com a vacina e isso é porque ainda não se passou tempo suficiente para se concluir esses estudos clínicos. No entanto, já temos dados que indicam características importantes dessa relação e mais estudos são publicados a cada semana.

Um desses dados interessantes foi demonstrado pelo grupo alemão Charité da Universidade de Medicina de Berlim quando mediram a taxa de mutação do coronavírus em comparação com o vírus da gripe (influenza). O resultado mostrou que o coronavírus muta 4 vezes mais lentamente do que o vírus da gripe. Isso indica que o cenário atual de altas taxas de mutação e surgimento de variantes observadas no coronavírus é provavelmente devido à grande quantidade de infectados e não a uma característica que se observaria nesse vírus quando a pandemia estiver sob controle.

Em relação às vacinas, a BNT162b2 (Pfizer/BioNtech) tem eficácia de 91% depois de 6 meses, próximos aos 95% de eficácia originais. Porém, mesmo a eficácia continuando alta, essas empresas já se pronunciaram sobre a possibilidade de uma terceira dose para manter a imunidade.

Sobre a Coronavac (Sinovac/Butantan), a vacina mais usada no Brasil, ainda não foram divulgados dados sobre tempo de proteção, porém a empresa Sinovac se pronunciou dizendo que os anticorpos contra o coronavírus diminuem com o tempo e que eles estão realizando estudos com uma possível 3a dose.

No que se refere a eficácia contra as variantes, as vacinas Vaxzevria (Oxford/Astrazeneca), BNT162b2 (Pfizer/BioNtech), Ad26.COV2.S (Janssen) e mRNA-1273 (Moderna) se mostraram menos eficazes contra a variante sul-africana (B.1.351). Dessa forma, estudos clínicos usando reformulações dessas vacinas já estão sendo feitos.

Por enquanto, nos resta uma questão ética para reflexão. Muitos países desenvolvidos estão pretendendo distribuir 3a doses para suas populações. É justo que estas pessoas tomem uma 3a dose quando a maioria do mundo não se vacinou nem com a 1a?

É esperado que essa postura aumente ainda mais a desigualdade da vacinação já observada desde o seu início. Ao negar a acessibilidade de uma dose a populações vulneráveis do mundo, nega-se também a proteção contra sintomas graves, hospitalização e óbito.

Por fim, é importante ressaltarmos que, durante o cenário de emergência sanitária mundial em que nos encontramos, é possível que continuemos tomando doses de reforço de acordo com a disponibilidade de vacinas. Porém, essa situação provavelmente se alterará quando a pandemia estiver sob controle.

Apesar do atual interesse pelos imunizantes autorizados pela Anvisa, esse é apenas o começo das vacinas contra o coronavírus, a primeira geração. Vacinas a serem aprovadas e desenvolvidas no futuro podem ser mais eficazes, induzir mais imunidade adaptativa (uma memória de longo termo) ou, ainda, podem ser uma vacina universal contra vários tipos de coronavírus.

No Brasil, nossa melhor aposta é no desenvolvimento de vacinas nacionais. Isso faz com estas tenham um preço mais acessível, além de não dependermos da disponibilidade de vacinas de outros países ou da situação diplomática. Nesse momento, várias vacinas estão em desenvolvimento no país: a ButanVac, a vacina da UFMG, a vacina nasal da USP, e outros projetos que estão começando. Cobrar o governo e apoiar a ciência brasileira é sempre a nossa melhor aposta!